URNAS ELETRÔNICAS PODE SER FRAUDADAS?






Próximo ao período de eleições, nada mais natural que um tema tão corriqueiro. Afinal, elas podem ou não podem?

Segundo o professor do Instituto de Computação da Unicamp, Diego Aranha, diz esperar que elas sejam “justas e tranquilas”, dizendo isso por um simples fato: ele garante que as urnas eletrônicas que serão usadas no pleito são vulneráveis e podem ser hackeadas.

Sua afirmação já é antiga e decorre da participação em diferentes testes promovidos pelo Tribunal Superior Eleitoral. A ideia dos experimentos era garantir a confiabilidade dos equipamentos, mas o que a equipe liderada por Aranha e composta por mais outros quatro especialistas constatou foi bem diferente. O time foi capaz de quebrar o sigilo dos eleitores e exibir mensagens na tela que poderiam induzir a escolha de um determinado candidato. O próximo passo era a manipulação e o desvio de votos, que, de acordo com o professor, só não foi possível verificar por uma questão de tempo.

Em reportagem publicada pela Vice, Aranha lembra os testes realizados pelo Tribunal Superior Eleitoral no final do ano passado, que duraram cinco dias e se assemelharam a uma competição, com direito a “mãos para cima” no momento em que o relógio decretou o fim dos experimentos. Segundo ele, o desafio final só não foi vencido devido a um erro em três linhas de programação no código que permitiria fraudar as eleições. Se tivesse mais tempo, ele tem certeza de que teria conseguido.

Os trabalhos de Aranha com as urnas eletrônicas (e também suas alegações de que elas podem ser fraudadas) já vêm desde 2012, quando ele descobriu ser possível saber a ordem exata de votos depositados em uma urna, algo que, na comparação com os registros das seções, permitia quebrar o sigilo dos eleitores. Além disso, na época, também descobriu brechas na criptografia dos equipamentos, com a chave necessária para instalação do programa de votação estando descoberta e disponível em pleno código-fonte.

Os novos testes, que aconteceram entre outubro e novembro de 2017, revelaram que tais brechas ainda estavam disponíveis. Mesmo com a assinatura digital implementada como uma segunda camada de proteção, muitos dos arquivos disponíveis nos cartões de memória que faziam as urnas funcionarem estavam desprotegidos, o que permitiu alterações e injeções de códigos. Foi aí que os pesquisadores, por exemplo, conseguiram alterar os dizeres “Seu voto para”, no topo da tela de inserção de números, para “vote 99”, algo que, por si só, já constituiria uma fraude nas eleições.

A brecha final não foi encontrada, pois o prazo para testes se encerrou antes do fim da eleição simulada que seria promovida pelo grupo de Aranha. Enquanto as urnas eletrônicas eram programadas para realização do experimento, ele percebeu comandos errados em três linhas de código. O problema é que o processo levava mais de uma hora para ser concluído e a janela dada pelo TSE se encerraria antes disso. O especialista, entretanto, não tem dúvidas de que seria capaz de obter sucesso na empreitada e, mais do que isso, alerta para o fato de que hackers e indivíduos maliciosos não têm limite de tempo para explorarem as vulnerabilidades.

O professor contesta as afirmações do Tribunal Superior Eleitoral de que as urnas são seguras e, mais do que isso, disse ter tido pedidos de análise posterior dos equipamentos negados. Representantes do TSE não teriam comparecido a audiências em que rebateriam os argumentos dos especialistas e, em alguns momentos, o órgão chegou até mesmo a afirmar que a ênfase nas fraquezas técnicas das urnas eletrônicas era equivalente a “ameaçar a democracia”. Foi, na visão de Aranha, um recado claro.

Hoje, o professor está de mudança para a Dinamarca, onde vai assumir uma cadeira na Universidade de Arrhus. Ele nem mesmo estará no Brasil para as eleições de outubro, mas afirma que suas palavras, agora, estão sendo usadas lado a lado com as bravatas de conspiradores virtuais e propagadores de fake news como mais uma forma de reduzir a validade de seu discurso. “Estou me aposentando”, afirmou ele à reportagem.

A palavra oficial do TSE é de que todas as vulnerabilidades encontradas nos testes realizados no fim do ano passado estarão solucionadas nas eleições de outubro de 2018. Além disso, o tribunal reforça a noção de que as urnas eletrônicas são “a melhor solução tecnológica para as eleições brasileiras”, refutando as alegações de especialistas e até mesmo de candidatos sobre o caráter nebuloso de seus mecanismos de segurança.

Uma lei de 2015, porém, operará pequenas mudanças já nas eleições deste ano, com 30 mil urnas brasileiras, 5% do total do país, emitindo comprovantes físicos de voto, que podem ser usados em auditorias futuras, caso o resultado seja contestado. A ideia é que todos os equipamentos contem com esse recurso apenas em 2028, uma operação que envolve gastos de R$ 2,5 bilhões, na previsão do TSE, e pode chegar a ser impedida caso avance uma ação que corre no Superior Tribunal Federal.

E aí? A dúvida está ou não implantada em seu cérebro?

Fonte Vice


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